Wishbone: Conan Gray e a saga sobre um coração partido
Em seu quarto álbum, o cantor texano tece uma saga sobre amor, trauma e autodescoberta, consolidando-se como o cronista de sua geração.
Conan Gray nunca foi apenas um cantor pop. Ele é um contador de histórias da geração Z, um cronista das emoções e dos amores não correspondidos. Em seu quarto álbum de estúdio, Wishbone, lançado na última sexta-feira (15), o artista texano retorna às raízes da composição confessional, entregando 12 faixas, todas com a sensibilidade característica de Gray.
“Quando você está no início da vida adulta, você experimenta várias versões de si mesmo. Meus segundo e terceiro álbuns foram ambos uma tentativa de descobrir exatamente quem eu era. Acho que cheguei a uma conclusão de que talvez Wishbone seja uma visão mais verdadeira de quem eu sou.”
– Conan para GRAMMY.
A faixa de abertura do álbum, “Actor”, define o tom da obra ao detalhar um caso secreto com um ator que, mais tarde, fingiu que nada havia acontecido entre eles. A música é uma canção sobre ser autêntico com as próprias emoções em torno de um relacionamento fracassado. “Actor” é o início do arco da história de amor do álbum e é a partir daqui que Wishbone vai progredindo.
A friend of mine asked you: Have you talked to Conan?
You didn't react, you said: I barely even fucking know him, mmm
“Actor” me pareceu a maneira perfeita de dar às pessoas uma visão geral de como eu estava me sentindo do início ao fim do álbum. De muitas maneiras, acho que o primeiro verso abrange tudo. É como se dissesse: “Ok, bem, foi isso que aconteceu. Foi isso que partiu meu coração. É assim que me sinto em relação a isso”. E acho que é quase como se o primeiro single do álbum, “This Song”, fosse uma canção de amor. E, de muitas maneiras, eu meio que induzo as pessoas a pensar que será um álbum de amor. Então, com o álbum em si, achei importante fazer o oposto e dizer: “O que vocês estão prestes a ouvir agora é uma história muito específica que aconteceu comigo”. Eu também adoro essa música. É uma das que eu senti que era a pedra angular da história do álbum.
– Conan para Capital Buzz
A faixa seguinte, “This Song” – o principal single do álbum – é uma carta de amor que capta o sentimento de estar apaixonado e pronto para, finalmente, dizer à pessoa.
O single, sonoramente, é um retorno as origens do cantor, relembrando o álbum Kid Krow, mas de uma forma mais madura. A faixa é doce, sonhadora e genuína, com letras que descrevem anedotas identificáveis de gestos de amor pequenos, mas significativos, como “Your brown racer jacket / my hands through the sleeves” e “We’re sat in my bedroom / and I hear your heart like a train on the tracks”.
As notas de amor e saudade expressas na música são justapostas com sentimentos de ansiedade e incerteza e isso cria uma mistura única de emoções que ressoa em muitos, já que Conan é conhecido por suas letras expressivas e íntimas em seus muitos projetos.
O videoclipe, lançado em conjunto com a faixa, se encaixa perfeitamente em um filme sobre o amadurecimento de jovens adultos. Com uma câmera cinematográfica e uma paleta de cores nostálgica, ele retrata uma história de amor queer sincera e bela, acompanhando dois meninos, Wilson e Brando, enquanto passam o verão juntos, lentamente se apaixonando.
O álbum segue com “Vodka Cranberry”, uma balada que captura sentimentos confusos e turbulentos de um choque emocional após se reunir com um ex. Se “This Song” inclina-se para uma melancolia, “Vodka Cranberry” traz a tortura silenciosa e a dor de um coração partido. Em uma mistura eufórica de angústia e tristeza, ele implora à sua amada por um desfecho no refrão: “Speak up, I know you hate me / Looked at your picture and cried like a baby”, antes de declarar que, infelizmente, não vai esperar mais: “If you won’t end things, then I will”. A música soa como um clássico, repleta de belas melodias que parecem familiares à primeira audição, mas ainda assim emocionantes de ouvir, como aquela nota alta no refrão.
A bebida que dá nome à música se torna um símbolo do excesso emocional, agridoce, fácil de beber e um pouco embaraçoso em retrospecto. As especulações dos fãs sugerem que a canção pode estar ligada a experiências pessoais passadas de Conan, remetendo aos temas explorados em seus álbuns anteriores – Kid Krow, Superache e Found Heaven –, mas agora com uma abordagem mais madura e introspectiva.
É uma daquelas músicas que acho que reflete mais o meu medo irracional de que as pessoas me deixem. Acho que estava com tanto medo do que estava acontecendo, tão confuso, que sempre tive esse instinto de pensar: “Ah, eu deveria simplesmente cortar isso para que fosse eu quem decidisse se vou ser abandonado ou não”
– Conan para Capital FM
“Romeo”, a quarta faixa do álbum, é onde, aparentemente, Conan decide colocar um ponto final depois de amar alguém que nunca mereceu. A dor de ser usado, enganado e subestimado – desde romances de verão que deram errado até pequenas humilhações que ficam na memória. “Romeo” é uma canção de rompimento deliciosamente atrevida.
I hope you know I’m never gonna want you back
You put me in a grave of stone, but now it only makes me laugh
Em “My World”, Conan descreve um relacionamento em que ele se dedicou emocionalmente, mesmo nos momentos mais difíceis, enquanto o parceiro agia de forma egoísta e insensível. Há uma clara sensação de injustiça e dor por ter sido tratado mal apesar de sua entrega. A faixa traz. talvez, algumas das melhores letras do álbum, zombando da masculinidade tóxica.
You can keep drinking and living a lie
And talking all low when you’re out with the guys
A sexta faixa de Wishbone, “Class Clow”, reflete sobre a autoimagem de Gray – e como esse rótulo criado na escola ainda é relevante. “Everything comes back around, I still feel like the class clown”. Ao mesmo tempo em que Gray luta para encontrar seu lugar, a maneira como ele habilmente lida com esses sentimentos nas músicas prova que ele está entre os alunos mais brilhantes da turma. Na música, ainda vemos Conan reflexivo e introspectivo, mas sem nenhum parceiro romântico à vista. Em vez disso, ele se abre sobre como lidou com o trauma familiar durante a infância, fazendo as pessoas rirem.
Conan, em “Nauseous”, admite abertamente seu trauma de abandono e como isso se reflete em seus relacionamentos. O cantor se sentiu abandonado por muitas pessoas no passado, tanto romanticamente quanto por sua família. O violão e o piano que iniciam na faixa são abafados pelos vocais de Gray, à medida que ele aborda seu medo do amor e o trauma infantil que o influencia.
Your love is a threat and I’m nauseous
It scares me to death how i want it
It’s not common sense but I’m haunted by people who’ve left
So you scare me to death
O disco segue com “Caramel”, uma faixa reflexiva sobre um amor passado impossível de esquecer. Através de memórias vívidas e emocções persistentes, o terceiro e último single do álbum mostra como alguém pode permanecer em sua mente, de uma maneira doce e irresistível, mesmo depois do fim do relacionamento – e fica ainda pior quando essa pessoa continua encontrando maneiras de voltar. O indie rock tem o seu próprio videoclipe e dá continuação a história vista anteriormente nos clipes de “Your Song” e “Vodka Cranberry”.
Uma dor auto infligida de um rompimento em “Connell”. “You remind me of how good it feels to hurt”. Conan, em entrevistas e nas redes sociais, sempre demonstrou apreço pelo livro/série Normal People, ao qual o título da música faz referência, Connell, um dos personagens principais. A faixa é sobre amar alguém que nunca te amou de volta. Conan se desculpa, se compara, se diminui – e transforma tudo isso em uma balada dolorosa. A música é sobre amar alguém que nunca te amou de volta — ou pior, que te usou como passatempo emocional. “You remind me of my father slurring words” — adiciona uma camada de trauma familiar, sugerindo que esse padrão de desvalorização vem de longe.
“Sunset Tower” é a décima faixa do álbum. Uma faixa crua e de carregada de emoção que mergulha na luta de ver um ex amor seguindo em frente enquanto você ainda está preso nas consequências de um término.
“Sunset Tower” é um produto do fato de [Elvira e Luka Kloser] já conhecerem toda a história da minha vida, como se não precisássemos atualizá-los sobre nada e simplesmente compuséssemos a música porque sabíamos tudo o que havia acontecido.
- Conan para Capital FM
Próximo ao fim do álbum em “Eleven Eleven” Gray canta sobre confiar em sinais supersticiosos para iniciar, salvar e reacender um relacionamento. Wishbones, trevos, números celestiais - tudo é usado para manter viva uma conexão que já se foi. Conan mostra como o amor perdido pode ser tornar prisão.
“Care” fecha o álbum com Conan falando sobre o caos da vida pós separação - quando você já superou p suficiente para seguir em frente, mas ainda sente uma pontada ao ver seu ex com outra pessoa. Conan diz superado mas, secretamente, ainda se importa. “I’m not trying to say that I want you back but it’s nice to linger in the past”. A faixa é sobre o cuidado que sobra quando o amor já foi embora.
Wishbone é um álbum narrativo do início ao fim. Cada faixa parece um capítulo de uma história de amor que deu errado, contada com uma clareza brutal. Seja interpretando o protagonista de coração partido ou o ex amargo, o talento de Conan reside na maneira como ele captura o que o amor realmente significa. É uma composição emocional excepcionalmente perspicaz, tornando Wishbone um de seus trabalhos mais comoventes até agora.