Terno Rei em Nenhuma Estrela: amadurecer é brilhar sem fazer alarde
Com sonoridade refinada e reflexões maduras, Terno Rei entrega um álbum introspectivo – mas que ainda caminha por territórios já conhecido.
Nenhuma Estrela, novo disco da banda Terno Rei – formada por Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Maya (guitarra), Luís Cardoso (bateria) –, lançado na noite de 15 de abril de 2025, nos apresenta uma atmosfera soturna, intimista e, de certa forma, sofisticada. É como se eu embarcasse numa viagem noturna e introspectiva.
O disco aborda reflexões sobre amadurecimento (“32”), autoestima, superação de antigos relacionamentos e até mesmo o sentimento de estar disposto a se apaixonar novamente, dessa vez sem grandes expectativas, sem saber se vai dar certo ou não. Esse desejo aparece em faixas como “Próxima Parada” e “Viver de Amor”.
A impressão que fica é de que a banda atingiu um novo nível de maturidade, e isso reflete diretamente na produção, que soa mais polida e bem resolvida do que nunca. É como se eles tivessem condensado a energia da caminhada num bairro tranquilo de São Paulo, presente em Violeta, e a energia expansiva de uma aventura de férias com amigos em Paraty, vista em Gêmeos. Tudo aqui parece ter sido meticulosamente desenhado: eles sabiam exatamente o que queriam.


Musicalmente, Nenhuma Estrela expande ainda mais a sonoridade da banda, incorporando elementos do pop oitentista e do rock alternativo dos anos 2000. A faixa “Nada Igual” exemplifica bem essa nova estética: pulsante, dançante e com um ritmo firme que reflete o momento atual do grupo. Já “Viver de Amor” evoca uma sensação de estrada longa e tranquila, uma viagem interior mais serena. Ambas foram lançadas como singles em fevereiro de 2025, aquecendo os ouvidos para o disco completo.
As influências são perceptíveis. Há ecos de Semisonic, Interpol, Joy Division e Molchat Doma, uma tapeçaria de pós-punk e indie que reforça a identidade da banda. Além disso, o álbum se destaca pelo uso criativo de sintetizadores, saxofones e arranjos de cordas, criando uma ambiência densa e emocionalmente carregada.
“Relógio" marca um momento inédito na trajetória da banda: sua primeira colaboração com outro artista. A escolha de Lô Borges, ícone do Clube da Esquina, adiciona camadas de lirismo e tradição à faixa. Ale Sater, vocalista, descreveu a parceria como uma honra, um gesto de reverência que também aponta para a ambição artística do grupo. Além dela, “Tempo” também se destaca por trazer a colaboração da dupla mineira de rock eletrônico Paira (Clara Borges e André Pádua). Clara contribui com vocais de apoio delicados que contrastam suavemente com o timbre de Ale.
A produção ficou novamente sob comando de Gustavo Schirmer, colaborador recorrente da banda. Já a mixagem foi assinada pelo francês Nicolas Vernhes, conhecido por trabalhos com nomes como The War on Drugs e Deerhunter – o que adiciona um toque internacional à estética sonora do disco.

Apesar da produção refinada, da identidade marcante e do evidente salto em relação ao anterior Gêmeos, Terno Rei ainda parece preso a uma zona lírica confortável. As faixas voltam a temas como amadurecimento, corações partidos, relações mal resolvidas e solidão, todos já exaustivamente explorados nos discos anteriores. Se antes essas composições pareciam embebidas em Askov Sabores, agora boiam em uísque e crise da meia-idade.
Ainda assim, Nenhuma Estrela representa uma contribuição valiosa à discografia de Terno Rei. Marca um ponto de virada claro, tanto na estética quanto na direção artística, deixando pistas nítidas sobre os caminhos que a banda pretende seguir a partir daqui.
lindo lindo!
Estréia em grande estilo, eu amei a leitura ♥️ você arrasa demais