Nobody Lives Here: SYML e a reflexão sobre mudanças
Entre a perda e o crescimento: como SYML enfrenta as mudanças e o luto em Nobody Lives Here.
É basicamente como quando você mora em um lugar onde não deveria mais morar, ou talvez tenha tido um relacionamento ou um momento especial em sua vida, em um lugar onde não mora mais. É a ideia de que você está passando por todo esse lugar e se lembrando de sua vida anterior, e é mais ou menos sobre a passagem do tempo e como isso pode ser muito triste.
– SYML para BEDROOMDISCO
SYML é o projeto solo do norte-americano Brian Leseney Fennell – que em galês significa “simples” e se pronuncia “sim-muhl”, inspirado em sua herança pessoal de seus pais biológicos, que são galeses. A experiência de Fennell em lidar com sua adoção e herança são influências em suas composições.
Na última sexta-feira (04), Brian nos apresentou seu mais recente trabalho, Nobody Lives Here, mergulhando em sua jornada de crescimento pessoal – ao mesmo tempo em que abraça o desconhecido em meio à mudança.
A faixa de abertura, “A100”, ambienta o álbum com os instrumentais, apresentando aos ouvintes tons suaves e complexos, característicos de SYML.
“Carry No Thing” da continuidade a obra com a autorreflexão, onde Fennell enfrenta as questões de com quem ele se importa e como ele escolherá demonstrar esse amor. Já “Careful”, com uma letra profunda e um piano constante, narra as experiências do cantor de encontrar o momento certo para brilhar.
Quem me deu essa boa pele em meu rosto?
Cabeça cheia, acho que é sorte, só que um pouco mais grisalha
Já adotado uma vez, minha introspecção fica pesada
Cresça, diminua o ritmo, está tudo bem
Brian foi adotado quando bebê e não tem muito conhecimento sobre seus pais biológicos, a não ser o fato deles serem galeses e que eram muito novos quando o tiveram. SYML então questiona quem eram essas pessoas que o tornaram como ele é e, apesar dos efeitos negativos que isso pode ter sobre alguém, Fennell se conformou com tudo isso e é capaz de agradecer aos seus pais biológicos sobre suas características físicas como um cabelo volumoso, apesar de grisalho, e uma pele bonita.
É uma espécie de lembrete de que você está bem e sabe ser honesto com quem você é e com o que o faz feliz.
– SYML para BEDROOMDISCO
O álbum segue com “Please Slow Down”, um folk dos anos 60, que fala sobre o amor que transcende o tempo e as circunstâncias. Uma sensação de proteção e cuidado, onde há também uma reflexão sobre o medo e vulnerabilidade. A ideia de que o amor não se limita a momentos passados, mas continua vivo e presente – mesmo quando separados.
A perda, o luto e a busca por aceitação diante de um evento doloroso. “The White Light of the Morning” expressa a dor e a impotência que SYML sentiu após a morte de seu pai.
“Durante meses após a morte de meu pai, eu tinha sonhos em que estava com ele em um lugar iluminado e tranquilo. A parte mais triste era que, em meu sonho, ele não sabia que tinha morrido. Era uma sensação profunda e impotente. Quando sofremos uma perda de qualquer forma, nosso cérebro se esforça muito para dar sentido a ela, e essa é outra tentativa.”, relata o cantor. “The White Light of the Morning” é uma música que fala sobre o luto, sobre o amor incondicional e o processo de aceitar a perda enquanto ainda se carrega a pessoa amada no coração.
Um amor complexo e, talvez, um pouco turbulento. “Wake” mistura sentimentos de paixão, obsessão e a busca por paz. A faixa aborda um amor intenso, que traz prazer e dor – uma luta para encontrar a estabilidade emocional em meio ao caos.
Desolado, enterre meu coração quando as luzes se apagarem
Enterre meu coração quando as luzes se apagarem
A ideia de enterrar o coração, pode transmitir a ideia da necessidade de deixar ir o sofrimento, de encontrar uma maneira de seguir em frente, mesmo após tudo o que foi vivido.
Então, sim, essa aceitação de que as coisas que mudam são inevitáveis e que a perda é inevitável, mas que você pode escolher crescer e abraçar coisas novas porque deixou algo ir embora, acho que é provavelmente o maior desafio e a maior lição.
– SYML para BEDROOMDISCO
Metáforas e reflexões sobre as dificuldades de lidar com o fim de um amor, a solidão e a necessidade de encontrar um novo rumo em “Heavy Hearts”. Há um confronto com a realidade de que os sentimentos e os planos do eu lírico e a pessoa amada não se concretizaram como esperavam, e agora ambos estão tentando lidar com a dor de maneiras diferentes.
“How It Was It Will Never Be Again” fala sobre envelhecer. É difícil entender a ideia de que nenhum momento pode ser repetido. É desolador, mas também nos incentiva a estar presente. Já “Something Beautiful and Bright” reflete sobre sacrifício, amor e autodescoberta, mas em um tom de introspecção – a narrativa da faixa parece centrar-se em alguém que está confrontando seus próprios sentimentos, desejos e relações. Refletindo sobre os sacrifícios que fazemos por amor, pela família e pela busca da nossa identidade, explorando medo, culpa e buscando por um significado mais profundo na vida.
”Ninguém está imune a desgostos, e isso acontece quando somos jovens e velhos. Na melhor das hipóteses, isso nos ensina como queremos amar e ser amados. O pior é que ele nos endurece e nos torna cínicos. A esperança nessa música é que aprendamos a perdoar depois que um coração é partido”, diz Fennell sobre “Heartbreakdown”
A faixa que leva o mesmo nome do álbum, “Nobody Lives Here” ambienta quem está escutando em um lugar vazio, transmitindo um sentimento de perda, solidão e do fim.
Ninguém mora aqui, mas alguém morava
Havia uma luz em cada janela
Ninguém responde quando eu chamo por você
Não é mais meu, estou deixando você ir
A música fala sobre o término de um relacionamento intenso e, possivelmente, destrutivo. O eu lírico lida com sentimentos de perda, choque, e a necessidade de se afastar para sua própria sobrevivência emocional. Imagens de caos, dor e destruição são intercaladas com o processo de aceitação e a tentativa de deixar ir, mesmo sabendo que isso não é fácil. A música reflete uma luta interna entre o desejo de manter a conexão e a necessidade de se libertar.
SYML, com seu mais recente álbum, Nobody Lives Here, leva os ouvintes a uma jornada de autodescoberta e de lidar com a perda, transições e emoções complexas. Cada faixa, por mais que trabalhe com temas similares e/ou correlatados, é uma reflexão sobre as nuances do amor, da dor e do crescimento pessoal, explorando tanto os aspectos destrutivos quanto transformadores.
O trabalho de Fennell é um reflexo honesto de sua própria história, marcado por momentos de consideração sobre sua adoção, o luto pela morte de seu pai e altos e baixos de relações. Sua música ressoa com aqueles que, assim como ele, enfrentam o desafio de lidar com o que é deixado para trás, ao mesmo tempo em que tentam encontrar força e clareza para seguir em frente. Ao longo do álbum, há uma constante tensão entre a dor do passado e a esperança de um futuro mais tranquilo – onde a aceitação e o perdão são possíveis.
Nobody Lives Here é sobre aceitar o que não podemos controlar – a perda, a mudança e os momentos que não podem ser repetidos. Mas também é sobre encontrar beleza no processo de deixar ir, no espaço que surge quando conseguimos nos libertar daquilo que já não nos serve. Brian nos convida a refletir sobre nossas próprias experiências de perda e mudança e, através da música, nos lembrar que, mesmo nas partes mais dolorosas da vida, sempre há algo a ser aprendido. O álbum é um testemunho de vulnerabilidade, crescimento e, acima de tudo, da capacidade humana de continuar e se reinventar, mesmo quando o caminho parece incerto.
Se a escuridão inspira o bem, é bom ser honesto a esse respeito. Todos esses personagens dentro de mim são fascinados pela mesma coisa, ou seja: Por que os humanos estão aqui e o que é esse universo em constante expansão pelo qual estamos flutuando?
– Brian Leseney Fennell