Crítica: Marina Sena e a ambição em soar natural
"Coisas Naturais" é diverso, rejeitando o supérfluo do atual pop nacional
Marina Sena nunca foi artista de passos tímidos. Desde De Primeira, seu álbum de estreia, a mineira demonstrou um apetite voraz por experimentação, transitando entre o pop e a música brasileira com personalidade. Em seu novo lançamento - Coisas Naturais - essa ousadia se intensifica, seja em diversidade sonora ou seja pelo seu característico domínio vocal que sempre foi pauta.
Gravado em um "acampamento musical" no meio da natureza com antigos companheiros, o disco não apenas reflete sua proposta estética, mas também a energia orgânica e fluida que permeia as 13 faixas inéditas. Marina se mostra cada vez mais confiante, expandindo suas referências sem se desconectar de sua essência. A presença marcante da Tropicália e da MPB se entrelaça com o pop contemporâneo, e não é por acaso que figuras como Gal Costa e Rita Lee inspiram constantemente o repertório da cantora.
O Spectrum ouviu o trabalho, e vem agora analisar o álbum que promete ficar na boca do público. Vem com a gente!
Destaques
Musicalmente, Coisas Naturais é um compilado vibrante de estilos. Da bossa nova ao reggae para dar e vender, eles não se apresentam sozinhos. Reggaeton, piseiro, arrocha, samba, afrobeat e até funk se mesclam, enquanto Sena transita entre os gêneros com classe. "Anjo", por exemplo, é uma das grandes faixas do disco, remetendo à elegância e liberdade de Gal Costa, enquanto "Lua Cheia" mergulha nas raízes nordestinas da cantora, evocando o arrocha e o piseiro que marcaram sua infância no norte de Minas.
Outro realce a ser feito é com a faixa "TOKITÔ", que traz as participações de Gaia e Nenny, ampliando as conexões musicais de Marina para além do Brasil. Da mesma forma, "CARNAVAL" celebra a fusão do funk com o samba em uma atmosfera festiva que sintetiza a essência do disco: um convite para se deixar levar pela música e pelo corpo.
O vocal de Marina também merece elogios. Se antes sua interpretação era mais crua e cheia de maneirismos, aqui ela explora vocais limpos, vibrantes e bem trabalhados. A lapidação é evidente, mas sem perder a autenticidade – o que a mantém conectada ao público fiel que conquistou desde sua estreia.
Fragilidades
Ainda que Coisas Naturais seja um álbum de identidade forte, nem todas as suas tomadas de caminho funcionam em harmonia. A incursão de brasilidades e reggaeton em "Doçura" soa deslocada, sem se integrar organicamente ao restante do projeto. Além disso, a bossa nova, por mais bem trabalhada que seja, domina o álbum a ponto de torná-lo, em certos momentos, “previsível”. Faixas como "SENSEI", embora bem produzidas, não possuem o mesmo impacto das mais memoráveis do disco.
Conclusão
Coisas Naturais reafirma Marina Sena como uma das artistas mais interessantes da música brasileira atual - e provavelmente, anos luz de seus companheiros em questão de autenticidade e construção artística. Sua base de fãs e recepção com este recém-lançamento demonstram esta força.
Mesmo com as imperfeições citadas, suas virtudes superam as falhas, entregando uma experiência romântica, intimista e cativante. Se por um lado a ambição do projeto esbarra em algumas limitações, por outro, sua autenticidade faz dele um trabalho sólido e marcante - mesmo que não se destaque como os dois anteriores.