EVERY DAWN'S A MOUNTAIN: Um adeus ao que se foi e um apelo para o futuro
Uma jornada musical entre culturas, melancolia e renascimento no novo álbum de Tamino.
Tamino, cantor belga-egípcio apresentou na última sexta-feira (21) seu terceiro álbum de estúdio – Every Dawn's A Mountain que em 10 faixas, aproveita um som e uma visão que abrange culturas e continentes.
O novo trabalho de Tamino-Amir Moharam Fouad foi criado entre aviões, seu apartamento na Cidade de Nova Iorque (cidade onde ele se estabeleceu permanentemente no ano passado – pelo menos por enquanto), no estúdio de Bruxelas e em quartos de hotel espalhados durante a última tour. O acúmulo de anos de estudo musical e experiências vividas em turnês mostra o cantor em sua forma mais potente.


“Every Dawn's a Mountain começou a parecer a única escolha certa. Essas palavras, de certa forma, expressam a essência do álbum, apoiando-o e abrangendo-o em sua simplicidade e dualidade. A maior parte do meu processo criativo, seja escrevendo ou gravando, tende a ser um trabalho de revelação (muitas vezes trabalhoso) em vez de colorir cuidadosamente linhas e figuras pré-desenhadas.”
– Tamino para CLASH
“My Heroine” é a faixa de abertura que reflete a dualidade de significados - uma pessoa e uma droga. “Você pode ser viciado em uma pessoa, e isso não é amor saudável. É um amor obsessivo, e eu queria cantar sobre isso”, diz Tamino sobre a música que com um suave violão, flui para “Babylon”.
A faixa começa com os clássicos vocais etéreos do cantor, que rapidamente crescem para tons mais altos, provando sua capacidade vocal. “Babylon” é melancólica, é sobre amor, sobre a perda – é o simbolismo de uma cidade decadente.
Sobre “Every Dawn's a Mountain” , a música que carrega o título do álbum, Tamino diz: “Cada dia é uma nova luta, mas também uma nova oportunidade. E isso também significa que posso ser gentil comigo mesmo. Porque se não der certo hoje, se o niilismo me engolir de novo, posso simplesmente tentar de novo amanhã”. A música também engloba elementos centrais do álbum: desgosto e arrependimento, mistura de influências europeias e do Oriente Médio.
Fazendo referência a uma superstição japonesa com um instrumental marcante, em “Sanpaku”, Tamino canta sobre uma conexão e um possível pressentimento de perda. Sanpaku é um termo japonês que se refere a uma pessoa com esclera visível em três lados de suas íris: o normal esquerdo e direito, mais acima ou abaixo.
A superstição japonesa é sobre o branco dos seus olhos. Se você vir a parte branca em cima, você está amaldiçoado, “E se você vir o branco da parte inferior do olho, então você é perigoso”, diz Tamino, que tem olhos sanpaku.
"O branco dos olhos acima da íris é chamado de yang sanpaku. Essas são as pessoas perigosas. Os psicopatas. O branco dos olhos sob a íris é chamado de yin sanpaku. Esses são os condenados. (sorri) Aparentemente, estou condenado. Mas ei, pelo menos eu não sou um psicopata!"
– Tamino para DeMorgen.
A música transmite um sentimento de que há um equilíbrio delicado entre conexão e desapego, com um senso de beleza e tragédia coexistindo. O eu lírico parece estar ciente de que algo inevitável se aproxima, mas, por enquanto, há um instante de cumplicidade e entendimento profundo.
Ela se afunda em meus olhos cansados
Algo que ela sabe
Fala do antigo sinal
Que marca minha alma
E ela retribui com um sorriso
O álbum também conta com a participação da cantora Mitski, na faixa “Sanctuary”, que tem uma letra carregada de simbolismo e sentimentos, como a esperança, mágoa e busca por propósito.
Em homenagem à herança de Tamino, “Raven” utiliza escalas egípcias e vocais delicados. A música também é uma referência direta ao poema “The Raven” (1845), de Edgar Allan Poe, no qual o pássaro se torna um símbolo de tristeza, lembrando sempre ao narrador que ele “nunca mais” verá seu amor perdido.
Seguindo com “Willow”, Tamino nos lembra que pode levar uma vida inteira para realizar a totalidade de nosso potencial.
“Elegy” começa dançante, de certa forma – é sobre perda e luto, mas também sobre a busca por esperança e amor como recuperação. Ao longo de 5 minutos, a faixa cresce com os vocais, ganhando espaço no coração de quem escuta. A música parece falar sobre um ciclo de perda e renascimento, com um forte peso emocional. O eu lírico sente que está sendo puxado por forças maiores, seja o tempo, o destino ou o próprio vazio existencial. No entanto, há um desejo de resgate através do amor. Apesar da melancolia, ainda há uma esperança sutil.
A palavra “Elegy” pode significar uma música ou poema que expressa tristeza ou lamentação, especialmente por alguém que já morreu. Ou um poema pensativo ou reflexivo, geralmente nostálgico ou melancólico.
A penúltima faixa do álbum, “Dissolve”, fala sobre limites imprecisos entre pessoas, épocas e emoções. Sobre as consequências dos erros e a busca de significado em um mundo que está se desfazendo cada vez mais. A música reflete sobre a perda, a saudade e a fragilidade das conexões, com tudo se tornando cada vez mais confuso com o passar do tempo.
Every Dawn's a Mountain encerra com “Amsterdam”, onde Tamino canta sobre sua antiga casa em um tom melancólico – uma carta de amor à antiga terra natal de Tamino, em memória de sua formação no Conservatório Real de Amsterdã.
A faixa homenageia e expurga o passado do cantor, destacando a mensagem do álbum que tanto é um adeus ao que foi e um apelo para o futuro.
NOTA: ★★★★½
Every Dawn's a Mountain já está disponível, confira:
amei conhecer o disco através do seu olhar
nossa, obrigada pelo contexto de Senpaku! abriu uma dimensão a mais no todo do disco! arrasou 🙌