Entrevista: Vera Fischer Era Clubber chega para barbarizar a cena independente do Rio de Janeiro.
O quarteto de Niterói faz sua estreia no Festival Itinerância Rebel e aproveitamos para conversar sobre o seu primeiro álbum Veras I, processos criativos e referências que formaram as Veras, confira:
Uma das novidades mais interessantes da cena underground carioca, a banda Vera Fischer Era Clubber chega para barbarizar, fazendo um som autêntico e cheio de personalidade.
Amigas de longa data, as Veras se conheceram no front carioca. Em um processo iniciado a partir de jams e improvisos, Malu (baixo), Pek0 (bateria) e Vickluz (teclado) assumiram os instrumentos, enquanto Crystal assumiu o microfone. VFEC é uma síntese de atravessamentos musicais que permeiam o club e referenciam o techno mas incorporando a ele, uma formação de banda que, junto a um eletrônico-sintetizado, abraçam outras sonoridades.
Um baixo que insere na mistura elementos pós-punk, um teclado soturno, melódico que se destaca em contraste com uma bateria industrial e uma voz que, com jeitinho carioca, debocha enquanto proclama letras que descrevem um cenário de dúvida e desejo, um caminhar por um mundo noturno, de fervo, flerte e busca por satisfação.
Após os singles “A Gata Agora” e “Fantasmas”, as Veras lançaram na última quinta-feira (24/04) seu primeiro álbum, o Veras I, composto por 7 faixas. Aproveitando o momento de expansão da banda e sua estreia no Espaço Verde da Fundição Progresso, nós do Spectrum batemos um papo com a banda sobre influências musicais, os processos criativos do quarteto e expectativas para o futuro!
Confiram a seguir o que rolou na nossa conversa com a Vera Fischer Era Clubber, algumas horas antes de subirem ao palco do Festival Itinerância Rebel.
Boa noite, pessoal! Gostaria de dar os parabéns pelo primeiro álbum que saiu ontem (24), o Veras I. Queria saber de vocês, como que foi esse processo? Tem uma diferença entre o lançamento do single “Fantasmas” e agora com o álbum, qual foi o sentimento?
Vickluz: É acho que a grande diferença que senti quando o single foi lançado e agora com o álbum, foi a coisa da fotografia do geral, do todo. Então, com o álbum [...] é reconhecendo essa conquista da gente. Acho que o álbum ele da pra gente essa foto panorâmica do que foi o nosso trabalho, esse tempo juntos.
Pek0: É porque no fluxo que a gente fez foi tipo com todas as músicas, já meio que apresentando o show e elas foram se construindo ao longo do que a gente ia apresentando nos shows. Então quem acompanhava ia vendo essa progressão. E eu sinto que essa progressão maior assim que a gente chega é a parte de lançar o álbum, de gravar isso. E como a gente teve nesse processo, eu por exemplo, tenho um anseio que é o de conseguir ouvir de fora o que a gente fez. Porque a gente sempre toca e a gente ta ali dentro tocando e é uma experiência x, mas quando você escuta de fora é tipo “wow”, sei lá.
Saiu da forma que vocês tinham imaginado?
Malu: Ah isso nunca acontece, né [de sair da forma que a gente imagina]. Mas acho que superou as expectativas, acho que foi melhor do que a gente imaginava.
Pek0: É, acho que foi bem melhor do que a gente imaginava.
O álbum saiu pelo selo da Palatável [Records]. Como que surgiu esse convite, essa parceria?
Crystal: A gente conheceu a galera da Palatável no Novas Frequências e a Nathália tava com a ideia desse selo, ela ainda não tinha assinado a primeira banda. E ouvindo o show das Veras e a nossa música que ela falou “cara, é exatamente sobre isso que eu quero fazer o meu selo!”. E aí, fechou, ali a partir do Novas Frequências que a gente conheceu eles.


Aproveitando essa parte dos Novas Frequências, vocês tocaram em São Paulo, em vários lugares aqui no Rio também. Agora foram convidados pelo Itinerância Rebel pra tocar hoje na Fundição. […] Qual a perspectiva de vocês, suas experiências nesses caminhos que estão trilhando, sobre fazer uma música mais subversiva aqui no Rio?
Crystal: Acho que as músicas são o que a gente é, então, existe esse tipo de pessoa aqui no Rio de Janeiro, existe essa galera. E os espaços pra gente tocar acho que são múltiplos, a gente ainda tá cavando e descobrindo. Porque a gente tanto quer tocar nas casas que recebem todas as outras bandas do Rio quanto a gente quer entrar também na cena noturna que criou a gente, onde a gente dava rolê e se divertia. Acho que a gente ainda tá se aclimatizando, a gente tá cavando esses espaços e tem muito lugar pra tocar aí ainda, com certeza!
Pek0: Eu sinto que aqui no Rio, várias vezes que a gente tocou e várias vezes trabalhando […] em casa de show em Niterói, e gente pensava em line ups e tentava coincidir as Veras com outros artistas, e tinha meio que uma dificuldade de achar uma galera que fizesse um som assim semelhante com o nosso. Tem a galera do Distantes, que tem um som semelhante, mas ao mesmo tempo é isso, é ir caçando nesse Rio de Janeiro; porque só de trabalhar com bateria eletrônica já é uma parada tipo [surreal], e a maioria das casas é tipo uma estrutura de bateria montada e a gente pede as vezes pra desmontar, e só isso as vezes já mostra que, enfim, tem essa diferença.
Crystal: Mas a gente também é muito diferente das bandas do eletrônico porque existe uma coisa na cena eletrônica que é o blasé. Principalmente no vocal, e as Veras não são blasé.
Pek0: Tem isso de se levar muito a sério e a gente não se leva muito a sério, né, a gente permite se zoar.
Crystal: Nem acho que é se levar muito a sério porque o Anvil FX eles têm várias letras que não são sobre levar a sério igual aquela “Mulher Elefante”, entendeu? Mas acho que a atitude do eletrônico, do vocal […] vêm dessa herança do blasé.
Pek0: Total. Que é essa coisa meio do eletrônico alemão, assim.
Crystal: É e a gente traz uma mistura que mete um punk, mais sujo. A gente mete uma atitude!


Acho que aqui no Rio tem uma cena alternativa muito boa, com nomes já no mainstream como a Ana Frango Elétrico e Letrux, mas senti no álbum uma ideia muito do punk mesmo, das origens de pegar e fazer, falar sobre o que vive e a sua realidade. Nesse sentido, quais são os sons que vocês ouvem? Quais as referências que vocês levam desde pequenos?
Pek0: Acho que se a gente falar o de cada uma porque é o norte das Veras, né. De certa forma, descreve assim um pouco.
Vickluz: […] Eu tô nesse processo com a banda de voltar a estudar, então não venho com um repertório muito elaborado pra esses momentos da gente gravar. E eu passo a criar relação ali com o instrumento, com os timbres que eu gosto, as notas que já me identifico e que eu já conheço dos acordes, a partir disso eu vou avançando. O que eu tenho de referência musical tá muito mais num lugar de me influenciar em uma atitude, numa construção de imagem, em uma ideia de metas e sonhos. De lugares para estar como artista, por exemplo, uma grande referência é o Depeche Mode, com os teclados, mas não é uma coisa que eu trouxe pro começo.
Malu: Pensando nisso, eu gostaria de dizer que eu sou rockeira [risos]. Minha referência de baixo maior assim, a princípio, é The Cure com certeza, Interpol também, essa galera assim do rock. The Strokes também, quando eu comecei a tocar baixo, era tipo referência, The Strokes e Arctic Monkeys. E foi a partir disso, mas também não é exatamente isso que eu faço nas Veras. E The Cure é a banda favorita da minha mãe, então, é meio que formativo demais, mas isso se desdobra de várias formas dentro da banda.
Crystal: Cara, eu acho que assim, a nível de onde tá o tesão da banda pra mim, que tá muito em escrever e botar as coisas que eu escrevo pra fora: eu diria que a Lana e a Fiona Apple. Porque elas são essas poetas muito potentes acima de tudo e você sente isso, que elas fazem música pra escrever. Eu sou uma pessoa muito ligada a letra e parte do meu tesão nas Veras é isso, é poder botar minha poesia, poder escrever, poder declamar. E num nível de performance, aí vem muito também do que eu herdei também da minha mãe, a Cássia Eller é uma referência muito forte pra mim, a Maria Bethânia também. […] Sonic Youth também, ouço desde muito jovem.
Pek0: Bom, eu venho da MPB, tipo minha família é muito Mpbzuda.
Malu: Mentira, ela se formou na Lady Gaga. [todos riem] Ela fez um bom mestrado na Lady Gaga.
Pek0: Olha o fluxo é o seguinte: eu muito criança ouvia muito Mutantes, Cássia Eller…
Malu: Xuxa!
Pek0: Xuxa ainda não, garota! […] Enfim, vim nesse fluxo dos Mutantes, dessa psicodelia, do tropicalismo no geral (Caetano, Gil…) e aí vou ficando adolescente e vou me jogando no pop. E assim, é ridículo falar esse referencial, mas o will.i.am com o Black Eyed Peas é um referencial!! […] Acho que não tem o que negar! O interessante assim é que a gente se conhece no club, então vindo de todos esses lugares diferentes, a gente se encontra em um certo lugar e é disso, desse lugar, que sai as Veras.
A Vera Fischer era clubber, de fato, informação verídica. Mas e vocês, são clubbers também?
Malu: Eu e Vick, a Crystal se joga de vez em quando, a Pek0 se aposentou, mas era mesmo.
E o que vocês trazem dessa cultura pra forma como vocês trabalham e produzem?
Vickluz: Mas o formato 4/4, será essa noção?
Pek0: É porque tem uma questão rítmica, que vai pro físico. [...] Essa noção a gente criou na pista, dançando e tem uma hora que você sabe que o beat vai virar.
Crystal: Tem a coisa do transe também, né? Que a gente vive no front, essa ideia de ritual.
Mas como é esse processo de produção de vocês? Surge a letra e depois vem o instrumental? Ou é tudo junto, naquele frenesi?
Crystal: Olha, a gente vem de um processo de jam. A gente vai experimentando e tem uma hora que a gente fala “opa, pera aí, isso ficou maneiro, aqui tem alguma coisa”.
Malu: E aí depois a gente foi afunilando essas coisas até o formato final.
E pra fechar, o que a gente espera das Veras agora?
Vickluz: Show, né! A gente tá esperando que chamem a gente!! [risos] A gente tá querendo rodar com esse show, né.
Crystal: Podem esperar muito show, dedo no cu e gritaria, bateção de cabelo e muito a viver o agora!
Você pode conferir o álbum completo das Veras no Spotify!