O TRUMAN MODERNO CIENTE DA ENCENAÇÃO: A trajetória de Eminem e seus alter egos
Slim Shady, Marshall e Eminem, afinal, quantas máscaras carrega o Deus do Rap?
Marshall Bruce Mathers III, também conhecido como Eminem – ou Slim Shady – é o rapper mais respeitado e assustador da indústria musical. Conhecido por ser “destruidor de carreiras”, o artista de 52 anos, possui um legado inabalável, sendo uma das maiores lendas vivas do rap.
Nascido em Missouri e criado em Detroit, Eminem teve uma infância conflituosa, desde pobreza, bullying à abandono paterno e desavenças maternas, o artista cresceu em meio a um ambiente problemático e levou isso para suas letras – através de batalhas de rimas locais – Marshall se consolidou como o Deus do Rap.
Atualmente, o artista se mantém recluso em relação a sua vida pessoal e distante dos holofotes da indústria — mas nem sempre foi assim. Pai de Hailie Jade, Alaina Marie e Stevie Laine, o rapper costuma se manifestar publicamente para resguardar sua imagem e a de família diante de ataques provenientes de outros artistas.
Eminem surgiu como uma grande explosão na indústria musical, utilizando seus alter-egos para retratar a sociedade de forma crua e caótica. Para celebrar os 25 anos de The Marshall Mathers LP e os 23 anos de The Eminem Show, o Spectrum preparou um especial dedicado à carreira do artista e seus alter-egos. Vem com a gente!
O NASCIMENTO DE SLIM SHADY
Ganhador do Oscar de Melhor Canção Original por “Lose Yourself” do filme “8 Mile” — que aborda sua vida pessoal e o inicio de sua carreira. Através do grupo Bassmint Productions – ou Soul Intent – composto por Eminem, Proof, Chaos Kid e Manix. Eminem teve suas primeiras faixas lançadas em 1990 no EP Steppin’ Onto the Scene em fita cassete, sem distribuição comercial. O EP, dividido em duas partes teve faixas escritas e interpretadas pelo rapper na primeira parte – The M&M Side.
Anos depois, Eminem fazia sua estreia solo com o álbum Infinite (1996). O disco que foi gravado com poucos recursos pela Web Entertainment — gravadora independente de Detroit — foi produzido pelos The Bass Brothers. Suas canções originalmente abordavam sobre superação, desafios pessoas e artísticos e a ambição pela fama.
Em 1999, com o lançamento de Slim Shady EP, através de um estagiário de 19 anos da Interscope Records, Eminem foi introduzido ao grandioso Dr. Dre – rapper, produtor musical e empresário. Dre, foi o responsável por produzir a ascensão de Eminem a fama e abrir caminhos para o artista através do álbum The Slim Shady LP (1999).
Com letras ácidas, violentas, carregadas de humor “negro” e críticas sociais, Eminem apresentou ao mundo seu alter-ego – Slim Shady. Em entrevista o rapper contou que estava no banheiro pensando em nomes para esse novo personagem mais ousado que queria criar, e de repente a expressão "Slim Shady" veio à sua mente. Ele gostou da sonoridade e da ideia – "Slim" por ser magro, e "Shady" como algo obscuro, suspeito, malicioso.
O personagem conhecido por sua agressividade, letras preconceituosas, brigas com celebridades e críticas à mídia, foi o ápice da transição dos anos 90 para os anos 2000. Afinal, nas palavras do rapper “o alter-ego falava tudo aquilo que as pessoas tinham vergonha, ou não queriam falar”. O disco foi o responsável por trazer o primeiro Grammy Awards de Eminem na categoria de Melhor Álbum de Rap e Melhor Performance Solo de Rap por “My Name Is”.
O CONFLITO DE ALTER-EGOS
Com o estrondoso sucesso do disco, Eminem apresentou um novo “alter-ego” — Marshall — em The Marshall Mathers LP (2001), sendo um dos disco mais vendido de todos os tempos, estreando em 1º lugar na Billboard 200 com 1,76 milhões de cópias na primeira semana. “O ano passado eu não era ninguém, esse ano estou vendendo discos, agora todo mundo quer chegar em mim como se eu devesse algo” canta na canção que traz seu próprio nome.
Com suas letras controversas e discriminatórias – Eminem causou um grande debate sobre a liberdade de expressão e os limites da arte – mantendo uma linha narrativa fixa, o cantor questiona o sucesso e as consequências da fama – além de dar continuidade ao personagem Slim Shady.
Em canções como “Stan”, Marshall foi o responsável por introduzir o termo na cultura pop para “fãs obcecados”, já em “The Way I Am” e “Under The Influence”, Slim Shady reforça: “e eu sou, o que vocês disserem que eu sou, então você pode chupar meu pau se você não gosta das minhas merdas”. Enquanto “The Real Slim Shady” aborda o fanatismo, o ódio e o desejo das pessoas de imitá-lo
Novamente, o rapper levou três Grammy Awards incluindo o de Melhor Álbum de Rap. “O que eu deveria dizer primeiro? Eu acho que, antes de mais nada, quero agradecer a todos que olharam além da controvérsia para ver o álbum pelo que ele é e pelo que não”, disse o artista durante a premiação.


O disco mais vendido da carreira do artista, completou 25 anos na última sexta-feira (23) e para celebrar, Eminem relançou o disco nas plataformas digitais, incluindo as icônicas performances na MTV Video Music Awards, na qual Eminem levou para casa o prêmio de Melhor Vídeo Masculino com “The Real Slim Shady".
Sua performance e o discurso de agradecimento se tornaram momentos icônicos da premiação — o rapper afirmou que havia preparado algumas palavras, mas em vez de sacar um papel do bolso, tirou uma porção de comprimidos, em uma provocação clara aos rumores da época sobre seu suposto abuso de medicamentos e drogas.
A referência não foi por acaso. Eminem vivia o auge de sua carreira, mas também era frequentemente observado pelo público devido ao seu comportamento polêmico e sua reputação ligada ao uso de substâncias.
Com a fama, o rapper se viu preso em meio aos holofotes – “The Eminem Show” retrata como sua vida pessoal virou um palco a céu aberto – constantemente vigiada, julgada e manipulada pela mídia, pelo público e até pelo governo. O rapper se coloca como o astro involuntário de um reality show distorcido — um Truman moderno ciente da encenação.
Ao assumir o papel provocador de Slim Shady, ele o usava para zombar da própria imagem construída pela imprensa — a atitude serviu para solidificar sua imagem provocadora e irreverente, ao mesmo tempo em que respondia com sarcasmo às críticas da indústria e da audiência.
Completando 23 anos nesta quarta-feira (28), o disco ressoa como uma luta interna entre Eminem, Marshall e Slim Shady, e reforça a ideia que Marshall é seu lado humano, Shady seu lado sombrio e Eminem a figura pública que fica diante dos olhos do mundo inteiro. O álbum leva os ouvintes a diversas direções e conceitos, ao mesmo tempo que aborda questões políticas e raciais, sendo provocativo, violento, sarcástico e ácido – ressaltando todos os alter-egos do cantor.
Sendo um dos discos mais vendidos de todos os tempos, The Eminem Show venceu duas categorias do Grammy Awards por Melhor Álbum de Rap e Melhor Vídeo Musical de Curta Duração por “Without Me”.
Composto de singles polêmicos como “Superman”, “Cleanin’Out My Closet”, “Without Me” e “Till I Collapse”, Eminem provou que apesar da várias tentativas de tentarem lhe calar, a indústria musical é vazia sem ele. Suas provocações não eram feitas apenas nas letras – em 2002 durante uma apresentação no MTV Video Music Awards, o rapper simulou um Congresso dos Estados Unidos, com uma bancada de “políticos” ao som de “White America” em protesto ao ex-presidente George W. Bush.
“Olhe esses olhos azuis, azul bebê, bebê exatamente como você, se eles fossem castanhos, Shady perderia, Shady ficaria na reserva, mas o Shady é bonito, o Shady sabia que as covinhas ajudariam, faz garotas desmaiarem, amor, olhe as minhas vendas, vamos fazer as contas: Se eu fosse negro, teria vendido metade”
Apesar de trabalhar vários conceitos importantes e válidos na época, a era ficou conhecida especificamente pelos videoclipes que chamavam atenção pelos ataques a Britney Spears , Mariah Carey e Christina Aguilera, e até mesmo à mãe do próprio rapper – que o processou por difamação no final dos anos 1990, o caso foi resolvido em 2001 e criou ainda mais conteúdo para as letras do artista, sendo Debbie Nelson, citada em diversas canções.
Com o lançamento de Encore (Deluxe Version) em 2004, Eminem enfrentou um período nebuloso em sua vida. Apesar das canções cômicas como “Just Love It” e “Big Weenie” e as confusões envolvendo o Rei de Pop — Michael Jackson. A era resultou em boas vendas, estreando em #1 na Billboard 200, vendendo cerca de 711.000 cópias em sua primeira semana nos Estados Unidos. O disco forneceu aos ouvintes um pouco mais de Marshall — distanciando-se de Slim Shady.
Com a pressão da fama, luto e conflitos familiares – incluindo a guarda de sua filha e problemas com a ex-esposa. Dependente de medicamentos controlados, sendo estes intensificados pela morte de seu melhor amigo Proof, o artista passou por uma overdose quase fatal em 2007, devido a combinação de metadona com outras substâncias. Entre 2005 e 2008, Eminem se afastou dos holofotes e da indústria musical.
"A médica me disse que eu estava a duas horas da morte. Eu não conseguia aceitar que aquilo estava acontecendo comigo. Foi aí que vi que eu precisava mudar"
— Eminem, em entrevista à Rolling Stone
Em 2009, Eminem fez seu comeback com Relapse, abordando sobre sua luta com as drogas, mantendo o humor irreverente e destacando os conflitos pessoais em canções como “My Mom”, “3 a.m.”, e “We Made You”. Apesar das boas vendas e da vitória no Grammy Awards de Melhor Álbum de Rap, o disco foi recebido com críticas mistas – tanto pela crítica especializada quanto pelos fãs e até pelo próprio rapper.
Já em 2010 com o álbum Recovery, canções como “Love The Way You Lie” em participação com a cantora Rihanna, Marshall apresenta uma era mais madura, focada na sua recuperação e superação pessoal. "Relapse era o que eu estava sentindo ainda drogado. Recovery é sobre sair do buraco." disse a Billboard em 2010. Eminem também reafirma as críticas ao disco “Relapse”: “Vamos ser honestos, o último Cd Relapse foi "ehhhh", talvez eu exagerei nos sotaques, relaxe, eu não vou voltar àquilo agora” canta em “Not Afraid”.
E se deveria haver alguma vez, onde minha vida esteja em uma situação difícil, e eu parecer que vou desistir, você deve ter se enganado, que eu vou me dar por vencido, não vou me curvar – após uma década de carreira, The Marshall Mathers LP 2 prova que o trono ainda é dele.
Eminem não só retorna à cena com força total, como reafirma sua posição como o rei do rap e um dos nomes mais influentes da música global. O disco que ecoou a força de seu legado, o colocou novamente como protagonista da indústria musical, coroando-o mais uma vez como o rei absoluto do rap.
Canções como “Berzerk”e “Survival” trouxeram as duas facetas de Eminem – um lado cômico e o outro emocional – sendo este disco, a marca da redenção de Marshall, especialmente na música “Headlights” que aborda os conflitos com sua mãe, as acusações de homofobia, misoginia, entre outros. “Nunca pensei sobre se o que eu falei machucou alguém”, canta o rapper de forma melódica e firme.
Porque até hoje continuamos estranhos, e odeio isso
Porque você nem sequer presenciou suas netas crescendo
Mas me desculpe, mamãe, por "Cleanin' Out My Closet"
Na época eu tava bravo, com razão? Talvez sim
Ainda assim, nunca quis levar isso tão longe
Porque agora sei que não é sua culpa
O álbum traz colaborações marcantes, como Rihanna em “The Monster” e Kendrick Lamar em “Love Game”. Além disso, apresenta um novo pilot twist na trajetória artística de Eminem com a faixa “Bad Guy” — uma continuação de “Stan”, do The Marshall Mathers LP — na qual o rapper retoma a crítica à cultura da idolatria.
Por que ser um rei quando você pode ser um Deus? Uma das canções mais conhecidas do disco, a faixa "Rap God" consolidou sua posição como um dos rappers mais habilidosos e inovadores da sua geração. Com uma letra que contém impressionantes 1.560 palavras em 6 minutos e 4 segundos, Eminem quebrou recordes mundiais, incluindo o de "Maior número de palavras em uma música de sucesso", conforme o Guinness World Records. Em um trecho da música, ele canta 97 palavras em 15 segundos, atingindo uma velocidade de 6,46 palavras por segundo, um feito que solidifica ainda mais sua maestria no rap.
O divisor de águas da carreira de Eminem, o disco Revival lançado em 2017 fez com que o rapper fosse o primeiro artista a ter oito álbuns consecutivos estreando no topo da Billboard 200. Apesar da boa recepção, as críticas, em sua maioria negativas , destacavam a quantidade de convidados da cena pop — como Beyoncé, Ed Sheeran, Alicia Keys e P!nk — e o mau aproveitamento da liricidade do cantor fazendo-o soar um pouco mainstream.
O disco é excessivamente longo, e não possui uma identidade clara, gerando uma sensação de “falta de foco” – uma coisa meio longe da identidade habitual de Eminem. Quanto às canções, “Walk On Water” gerou uma má recepção, nas palavras de Tyler, the Creator – grande fã do rapper – “Meu Deus, essa música é horrível, puta que pariu, como assim?” tweetou o artista.
Eminem, reconhecido por sempre responder seus haters – e até mesmo os seus fãs – não deixou o comentário de Tyler passar despercebido. A resposta veio em 2018 com o álbum Kamikaze — o disco que marcou o retorno de sua ira diante as críticas e a indústria musical.
“Tyler não cria nada, eu sei porque você se chama de viado, não é porque você gosta de atenção, é porque você adora as bolas do D12, você é um saco-religioso” – Rebateu chamando The Creator de puxa-saco e alegando que o mesmo cometia pecados graves contra a religião devido a sua sexualidade, o verso no entanto, não foi bem recebido na comunidade LGBTQIA+ e fez com que o rapper pedisse desculpas pelo uso pejorativo e homofóbico da palavra.
Muitos associam o pedido de desculpas ao fato de uma das filhas adotivas de Eminem fazer parte da comunidade LGBTQIA+. No entanto, o gesto revela, acima de tudo, a evolução pessoal do rapper — conhecido por raramente voltar atrás em suas palavras.
“Eu acho que a palavra que eu usei para chamá-lo naquela música foi uma daquelas coisas onde eu senti que isso poderia ter ido longe demais. Porque na minha busca para machucá-lo, percebi que estava machucando muitas outras pessoas ao dizer isso... Foi uma das coisas que eu continuei pensando e dizendo 'Eu não me sinto bem com isso'“
— Eminem em entrevista à Pitchfork
Music To Be Murdereb By pegou os fãs de surpresa em 2020. O álbum dividido em duas partes, é uma clara homenagem a Alfred Hitchcock — diretor e produtor cinematográfico, responsável pelo filme Psicose (1960) — e conta com a participação de Ed Sheeran, Juice WRLD e Young M.A. O disco estreou no topo da Billboard 200, marcando a décima vez que Eminem alcançou essa posição.
Com uma liricidade afiada, canções como “Darkness” fazem um apelo por mudanças nas leis de controle de armas nos Estados Unidos. Já a segunda parte do disco, é marcada pelo pedido de desculpas a Rihanna na canção “Zeus” — devido a uma antiga música que havia sido vazada, Eminem fez comentários incessíveis sobre os casos de agressões envolvendo o Chris Brown.
Além disso, “Alfred’s Theme” traz uma leve provocação a cantora Billie Eilish que afirmava ter medo do rapper e ataca P.Diddy. “Estou dando pesadelos para Billie Eilish, sou a cadela do lado de Diddy. Que porra é essa? Espere um pouco "Eu sou a cadela do lado do Diddy"? Oh, eu ainda estou do lado leste, vadia” canta fazendo trocadilhos com as palavras.
Eminem retrata as guerras de gangues com dualidade: em alguns momentos, expõe a violência com descrições intensas e provocativas; em outros, insere referências de forma velada, quase escondida entre metáforas e jogos de palavras — algo característico de sua escrita, afinal, Eminem sempre deixou claro que dependendo de suas falas, ele correria riscos.
A MORTE DE SLIM SHADY
A mudança gradativa de Eminem e sua adaptação a realidade atual — incluindo pautas atuais nas quais ele “detonava”, o fizeram questionar o porquê de Slim Shady ainda estar vivo. Logo, Marshall decidiu que era hora de colocar um ponto final na persona que o ajudou a passar por problemas pessoais e conquistar seu espaço na indústria musical.
Para conseguir evoluir, Eminem precisou deixar Slim Shady para trás — mas isso não significa que o rapper deixará de ser provocativo — na verdade, isso lhe dará mais liberdade artística, afinal, agora ele não precisa de um alter-ego para se expressar ou alcançar seus objetivos, já que Marshall Mathers é exatamente o que ele quer ser agora. Mas para dar continuidade ao seu legado, Eminem teve que matar seu alter-ego em The Death Of Slim Shady (Coup De Grâce).
Em canções como “Habits” e “Trouble”, Marshall busca censurar Shady na intenção de mostrá-lo como está o “novo mundo” — ao mesmo tempo que debate as críticas que são atiradas a ele, especialmente a onda de “cancelamento” que marca a Geração Z.
Obviamente não seria tão fácil assim, o disco soa como uma luta física, onde em grande parte das canções como “Brand New Dance”, “Evil”, “Lucifer”, “Antichrist”, “Road Rage”, "Head Honcho” e “Tobey” em grande parte é cantada e interpretada por Slim Shady — que chega a citar a falecida mãe de Eminem, Debbie — sendo o tipo de persona que cava fundo na sujeira, quanto mais baixo, mais ele se sente em casa. Quando Shady assume o microfone, não há limites éticos, apenas rimas afiadas e socos morais direcionados a Marshall que em poucas oportunidades assume o espetáculo.
Mas quando, Mathers assume a luz, canções como “Fuel” são direcionadas como um tiro certeiro. O rapper ataca P.Diddy usando um trocadilho de palavras que soam o nome insinuando seu envolvimento na morte de 2Pac (citando Keefe D) e The Notorious B. I.G e as polêmicas o envolvendo o artista, além disso, Eminem dispara comentários sobre a violência armada e brigas de gangues.
Descanse em paz, Biggie
E Pac, vocês dois deveriam estar vivos (é)
Mas não tô querendo briga com ele (não)
Porque vai que ele tenta me acertar que nem o Keefe D acertou ele
E é o único jeito de você me matar (nah)
O disco leva os ouvintes a uma batalha de rima íntima — onde dois atores dividem o mesmo palco com a mesma voz. Marshall entra com a alma exposta enquanto Shady invade com o caos e o sarcasmo. Contudo, em “Houdini”, Eminem mostra que ambos são apenas uma única persona.
O ápice do disco “Guilty Conscience 2”, colocam Marshall e Slim numa batalha de rima frente-a-frente. Destaca-se a mudança de entonação e liricidade do artista — que permite os ouvintes diferenciar o rapper de seu alter-ego facilmente.
Te dei poder pra me usar como desculpa pra ser mau (eu sei)
Você me criou pra dizer tudo que não tinha coragem de dizer (sim)
O que você pensava, mas de um jeito mais diabólico
Você me alimentou com pílulas e uma garrafa de álcool por dia (ok)
Me tornou forte demais pra você e perdeu o controle sobre mim (você tá certo)
Eu tomei conta de você totalmente
Através do uso de Inteligência Artificial, Eminem ficou cara-a-cara com seu alter-ego. "Eu amadureci, cara. Minha base de fãs amadureceu. O mundo mudou. As pessoas estão muito mais sensíveis agora. A cada duas semanas no TikTok, a Geração Z descobre você na segunda-feira e me cancela na terça", comentou Eminem durante a conversa com Slim Shady. Assista aqui.
"Eu quase perdi minha maldita carreira, minha família, minha vida. A vida tem sido ótima desde que você se foi"
— Declarou Eminem ao alter-ego.
O disco encerra com a majestosa “Somebody Save Me”, colocando um ponto final definitivo em Slim Shady e enterrando de vez o alter-ego. Cada verso é dedicado a seus filhos como uma carta aberta de arrependimento e perdão. A canção incorpora trechos de “Save Me” de Jelly Roll, de 2020.
O videoclipe considerado um dos mais pesados emocionalmente da carreira do rapper, mostra Marshall assistindo através de um vidro os momentos perdidos devido aos vícios e a raiva — além dos conflitos familiares que ele enfrentava na época. É possível ainda observar Slim Shady deitado ou assistindo os vídeos de sua filha por uma televisão.
Me desculpe por colocar as drogas acima de você
Me desculpe por não ter te amado o suficiente
Pra desistir delas, caralho como pode
Eu não te amar mais do que uma pílula?
Nossos pêsames Slim Shady! Mas seja bem-vindo de volta Marshall, vamos ver como o Deus do Rap irá dar continuidade ao seu inabalável legado.