ADEUS, AURORA: O TEMPERO QUE DESTACOU SUPERCOMBO DE UM MONTE DE PREGO
Neste sábado (29), o quinto álbum de estúdio da Supercombo completa 6 anos! Para celebrar, o Spectrum preparou um faixa-a-faixa especial – confira.
Fundada em 2007 no Espírito Santo, Supercombo é formada por Leo Ramos (vocal/guitarra), Carol Navarro (vocal/baixo), Paulo Vaz (teclado) e André Dea (bateria). A banda se destaca no rock brasileiro por suas letras carregadas de metáforas, imaginação e uma atmosfera onírica.
A banda que já subiu aos palcos de grandes festivais como o Lollapalooza e Rock in Rio, é conhecida por seus shows espetaculares e eletrizantes que combinam carisma com uma estética simples, porém marcante. Além da energia contagiante, a banda entrega uma setlist imprevisível - sendo uma belíssima caixinha de surpresas- que faz as performances do grupo serem memoráveis e cativantes, onde assistir uma única vez, não é o bastante.
ADEUS, AURORA: UMA NARRATIVA EM QUADRINHOS
A HQ Adeus, Aurora acompanha a personagem principal, Aurora, que descobre um segredo sombrio sobre sua família e, a partir disso, embarca em uma jornada de autodescoberta e luta para salvar a si mesma e os outros. O roteiro foi criado pela própria banda, enquanto os desenhos foram feitos por Jean Diniz, ex-guitarrista da banda e quadrinista com experiência em grandes editoras como Marvel e DC Comics.
A história em quadrinhos Adeus, Aurora é um verdadeiro presente para os fãs do Supercombo, repleta de referências aos discos anteriores e às músicas da banda, cada página da HQ carrega elementos que remetem à trajetória musical do grupo, criando uma conexão única com o público. Além de sua narrativa cativante e envolvente, a HQ se apresenta como uma verdadeira "era visual" que complementa a experiência do álbum. A obra é uma experiência imersiva, onde a trama e o conceito musical se complementam, oferecendo aos fãs uma nova perspectiva sobre a mensagem e o estilo do grupo.
Ao ouvir o disco, a história ganha ainda mais profundidade e significado, criando um ciclo perfeito entre som e imagem. Adeus, Aurora não é apenas uma adaptação de um conceito musical, mas uma obra que amplia a imersão do fã, oferecendo um olhar novo e rico sobre a música e a estética do Supercombo.
ADEUS, AURORA: A GENIALIDADE DA BANDA SUPERCOMBO
Adeus, Aurora marcou a fase de transição na história do Supercombo - a entrada do baterista André Dea, e mais tarde a despedida de Pedro “Toledo” Ramos -, contudo, apesar dos conflitos internos que ocorriam durante a era, o Supercombo se manteve firme e apresentou aos fãs um dos seus álbuns mais marcantes.
O álbum, com 10 faixas e 32 minutos de duração, traz singles incríveis como "Maremotos", "Menina Lagarta" e a romântica "2 e 1". O Supercombo se mostrou mais sensível neste trabalho, oferecendo aos ouvintes uma experiência cativante, onde cada palavra é uma viagem sonora, algo que é uma marca registrada da banda.
“Desde o álbum “Amianto”, a gente sempre recebe da galera de como nossas letras são imagéticas e acabam criando cenas. E como somos nerds e gostamos desse tipo de conteúdo, a gente resolveu criar a parte visual, para que a música acompanhasse essa história. Então criamos todas as histórias em quadrinhos com um amigo para ser a trilha sonora dessa HQ como completo.”
– Supercombo para PopNow.
"Guarda-Chuva", carro-chefe do disco, apresenta uma sonoridade suave e traz um toque de estranheza ao se distanciar um pouco da estética habitual da banda. No entanto, a música ganha intensidade e surpreende com uma liricidade íntima e melódica, abordando temas como despedida, luto e saudade, utilizando a metáfora do guarda-chuva e tempestades para transmitir suas emoções.
Já em “O Guerreiro e a Selva” a música usa a metáfora da caça e evolução humana para representar o amadurecimento, como uma transição de presa para predador, mostrando que, para sobreviver, é preciso deixar de fugir e aprender a caçar.
“Maremotos” - um abalo sísmico que acontece no fundo do oceano que gera ondas gigantes que se propagam pelo mar — é a metáfora usada para o primeiro single do disco que cativa os ouvintes devido a profundidade de sua letra — que acalma os corpos ansiosos e traz a sensação de que todos os problemas são passageiros, a música ressoa como um abraço em tempos difíceis, especialmente, para as pessoas que possuem problemas com saúde mental.
A canção explora os dois lados dos transtornos mentais, usando a metáfora dos "maremotos de química" para ilustrar como "pequenas coisas podem desencadear uma imensa agonia mental" — assim como um pequeno abalo sísmico pode gerar uma onda gigantesca, um simples gatilho pode provocar crises mentais avassaladoras.
“A gente usou muito nosso processo de evolução pessoal, muitas vezes as letras são como terapia para nossos próprios problemas e estão ligadas muitos com nossas vidas, com o que vivemos e muitos dos mantras que queríamos alcançar na vida. E isso reflete de uma forma positiva, pois nós tentamos olhar para a vida de maneira positiva e isso vai tudo para as letras.”
– Supercombo para PopNow.
Seguindo com “Menina Lagarta”, Supercombo apresenta aos ouvintes um conceito ainda mais profundo sobre crescimento pessoal e autoaceitação. A imagem da lagarta — que ao passar por uma transição se transforma em uma borboleta— simboliza as mudanças da vida e o desenvolvimento pessoal para alcançar a liberdade.
Essa menina sempre foi ‘largata’
Brigou com os pais e agora quer fugir da casca
Você tá triste, teias na tua alma
Mas o casulo é pra fortalecer tuas asas
Vai ser bom pra você!
“Robozin”, Supercombo mostra a versatilidade da sua escrita em Adeus, Aurora. Ao utilizar a metáfora do “Robô” para descrever pessoas que se tornam iguais umas às outras, ou que são “mais do mesmo”, a banda aborda de forma direta e poética a frieza do mundo, que pode desumanizar os indivíduos, tornando-os sem sentimentos ou “quadrados”.
Em “2 e 1”, o grupo traz a questão do autoconhecimento ao entrar em um relacionamento. O segundo single possui uma letra intimista e com uma mensagem clara: amar a si mesmo, antes de amar à outra pessoa.
Utilizando alegorias cinematográficas para abordar temas de monotonia, saúde mental, perda de controle e especialmente fazendo uma ligação direta com a HQ “Adeus, Aurora”, Supercombo nos apresenta “Meu Colorista”. A canção cria uma identificação instantânea com o ouvinte, ao falar sobre a busca de autonomia e retomada do controle, especialmente ao lidar com ansiedade e depressão.
Teu personagem fugiu com a tua fala, deu dó
Você perdeu o controle, o orçamento e o storyboard
Teu roteiro tá chato, óbvio, ninguém vai ver
Demite toda essa produção e comece a viver
Ah, se me dessem poderes, eu poderia (comece a viver)
Não depender de ninguém, ser meu colorista (sem efeitos especiais).
“Parafuso a Menos” é uma resposta brilhante para quem já ouviu que “lhe faltam parafusos na cabeça”. A canção aborda a ideia de ser único em um mundo que valoriza a normalidade, criticando a competição e a pressão social para se encaixar em uma sociedade pré-determinada. A letra reforça a importância da autoaceitação e da valorização das próprias diferenças, transmitindo a poderosa mensagem de que o desejo excessivo por aceitação pode tornar você invisível para o mundo.
O disco ainda contempla a melódica “Cela” que apresenta os vocais impecáveis e suaves de Carol Navarro, destacando-se a perfeita sintonia entre a baixista e o vocalista principal, Leo Ramos. Carol elevou o nível do Supercombo e trouxe o toque de encantamento que faltava à banda.
“É uma luta diária de tentar tirar esse conceito de ser um objeto, não uma artista. Antes me falavam “Você toca igual homem”, e eu pensava que era legal, porque eu tinha a pegada, mas hoje em dia eu penso que não preciso tocar igual homem para ser boa, eu toco igual uma mulher e é assim.”
– Carol Navarro para Esquinas
“Xepa das Estrelas”, encerra o disco de maneira majestosa, refletindo sobre amor próprio, resiliência e aceitação.
Se transforma
Vida é uma viagem
Que você compra passagem
Sem saber pra onde vai
Se transforma
Até os planetas se formam
Da xepa, do resto de estrelas
Basta você se querer
Por fim, Adeus, Aurora se alinha perfeitamente à trajetória do Supercombo, uma banda que sempre deixou claro que "os manuais não te servem". Assim, os "parafusos a menos" de Leo Ramos, Carol Navarro, André Dea e Paulo Vaz são, na verdade, o que os torna únicos, destacando-os entre os outros e reafirmando sua identidade fora dos padrões convencionais, os diferenciando de um bando de pregos.
Não sabemos o que o futuro reserva, mas continuaremos ansiosos para acompanhar a trajetória de uma das melhores bandas brasileiras da atualidade.